Os Raios X e a Tabela Periódica
Por volta de 1913, Moseley mediu as freqüências
das linhas espectrais dos raios X característicos de cerca de 40
elementos. A partir do gráfico da raiz quadrada da freqüência
versus o número atômico Z do elemento, ele obteve uma relação que passou a
ser conhecida como lei de Moseley. A repercussão imediata deste resultado foi a
alteração
da tabela periódica. Esse trabalho de Moseley teve papel importantíssimo
na consolidação e aceitação internacional do
modelo de Bohr. Na verdade, foi o primeiro dos trabalhos experimentais
a confirmar as predições de Bohr. Em carta escrita a Bohr
no dia 16 de novembro de 1913, Moseley observa que a sua fórmula
poderia ser escrita numa forma idêntica àquela obtida com o
modelo de Bohr.
Antes do trabalho de Moseley o número atômico era associado
à posição do átomo na tabela periódica de Mendelev, a qual distribuía os
elementos
de acordo com o seu peso. Moseley mostrou, por exemplo, que o argônio
deveria ter Z=18, ao invés de Z=19 (conforme a tabela de Mendelev).
Por outro lado, o potássio deveria ter Z=19, ao invés de
Z=18. Ele também mostrou que o cobalto deve preceder ao níquel,
apesar do peso atômico do Co ser maior do que o do Ni. De acordo
com Mendelev, o número atômico era aproximadamente igual à
metade do peso atômico. Moseley definiu o peso atômico como
igual ao número de elétrons do átomo eletricamente
neutro.
Comparando-se as expressões obtidas por Moseley com a fórmula
de Balmer-Rydberg deduzida por Bohr, vê-se que elas diferem pela
presença de uma constante subtrativa ao valor de Z. Moseley explicou-a
como sendo devido ao efeito de blindagem da carga nuclear pelos elétrons
orbitais mais intensos.
A lei de Moseley apresentava resultados bastante diferentes daqueles
do paradigma científico vigente. Através dela Moseley deduziu
que entre o hidrogênio e o urânio, deveria haver exatamente
92 tipos de átomos, cujas propriedades químicas eram governadas
por Z, e não pelo peso atômico. Isto significava dizer que
a tabela periódica devia seguir a ordem crescente do número
atômico e não a do peso atômico. Obedecida essa seqüência,
alguns lugares daquela tabela ficaram vagos, os correspondentes a Z = 43,
61, 75, 85 e 87. Por essa época, havia uma grande polêmica
entre os químicos a respeito do número exato de terras raras;
discutia-se se estas iam de Z=58 a Z=71 ou a Z=72.
O grande estudioso das terras raras era Georges Urbain, sendo ele inclusive
o descobridor de uma delas, o lutécio (Z=71), em 1907. Em 1911,
Urbain pensou ter isolado uma outra terra rara, com Z=72, a que chamou
de céltio. No entanto, os métodos químicos de análise
até então usados eram complicados e incertos. Ao ouvir falar,
em 1914, do método de Moseley, Urbain deslocou-se da França
para a Inglaterra, levando amostras de terras raras, inclusive uma do provável
céltio. Em poucas horas Moseley as examinou e as classificou sem,
no entanto, confirmar o céltio. A amostra deste, observou Moseley,
nada mais era do que uma mistura de terras raras conhecidas. Urbain ficou
tão impressionado com o trabalho de Moseley que resolveu divulgá-lo
no comunidade dos químicos. Apesar dessa postura, Urbain continuou
acreditando ser o elemento Z=72 uma terra rara, e prosseguiu em sua busca.
Essa crença foi fortemente renovada quando em maio de 1922, Alexandre
Dauvillier anunciou ter isolado o céltio, através de uma
análise do espectro de raios-X do tipo L de amostras contendo as
terras raras ytérbio (Z=70) e lutécio. Essa notícia
foi tão fantástica que chegou a impressionar Rutherford,
pois desde 1914 ele acompanhava com grande interesse a polêmica sobre
ser ou não ser uma terra rara, o elemento 72. Convicto de que essa
polêmica havia encerrado, Rutherford escreveu uma carta à
Nature
(17/6/1922) na qual dizia que um dos lugares vagos da tabela periódica
de Moseley acabara de ser preenchido.
Os físicos dinamarqueses, com base no modelo de Bohr, afirmavam
que o elemento 72 devia ser um metal similar ao zircônio. O próprio
Bohr fizera esta afirmação em sua sexta "lecture" Wolfskehl,
ministrada em Göttingen, no dia 21 de junho de 1922. Ao ler a carta
de Rutherford, na Nature do dia 17, Bohr chegou a pensar que sua
afirmativa estava errada, tanto que manifestou essa opinião em carta
enviada a James Franck em 15 de julho do mesmo ano. No entanto, ao saber
que Dirk Coster, um especialista em espectroscopia de raios-X, não
concordava com a interpretação de Dauvillier, Bohr resolveu
convidá-lo a trabalhar em Copenhague para que, juntamente com von
Hevesy, os três pudessem dirimir tão polêmica questão.
Coster chegou em Copenhague em setembro, iniciando imediatamente a busca
do elemento 72 em minérios de zircônio. No dia 11 de dezembro,
poucos minutos antes de proferir sua "Nobel lecture", Bohr recebeu
um telefonema de Coster dando conta de resultados positivos. No final da
sua "aula Nobel", Bohr anunciou a importante descoberta. No volume 111
de Nature (20/01/1923), em carta assinada por Coster e von Hevesy,
o mundo científico fica sabendo da descoberta do háfnio,
o elemento com número atômico 72. O nome foi dado em homenagem
a Copenhague, que em latim significa hafniae. Segundo Mehra e Rechenberg,
essa descoberta constituiu-se no maior triunfo de Niels Bohr.
Com relação aos elementos previstos por Moseley, é
oportuno salientar que o elemento 75, o rénio, foi descoberto em
1925, pelo casal Noddack. O elemento 87, descoberto em 1939, por Marguerite
Perey, recebeu o nome de frâncio e pertence a uma família
radioativa natural. Os demais elementos (43, 61 e 85) foram obtidos artificialmente.
Sendo suas vidas-médias muito curtas, esses elementos não
podiam ser naturalmente produzidos, ou pelo menos observados.
Extraído do site: http://www.if.ufrgs.br/tex/fis142/fismod/mod06/m_s01.html
Extraído do site: http://www.if.ufrgs.br/tex/fis142/fismod/mod06/m_s01.html
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